terça-feira, 16 de novembro de 2010
Resenha crítica dos filmes Janela Indiscreta e Veludo Azul / Relacionando aos textos de Walter Benjamin e Silviano Santiago
segunda-feira, 17 de maio de 2010
O Messianismo em Alice
Esses são os doze passos do herói mítico, de acordo com Jaseph Campell:
2) Chamado a aventura;
3) Recusa ao chamado;
4) Encontro com o mentor;
5) Travessia Umbral;
6) Testes, aliados e inimigos;
7) Aproximação do objetivo;
8) Provação máxima;
9) Conquista da recompensa;
10) Caminho de volta;
11) Depuração;
12) O retorno transformado.
Sou um admirador passivo da obra de Lewis Caroll, principalmente sua obra mais conhecida “Alice no País das Maravilhas”. Não me pareceu uma novidade quando o cineasta Tim Burton, conhecido por criar e recriar fabulas, se incumbiu da tarefa de readaptar o romance.
Ao assistir o filme não pude deixar de ficar assombrado. Não pela a fidelidade, (pois esta me parece uma constante nos filmes adaptados), mas exatamente pelo antagonismo do filme para com o livro.
Alice, o original de Caroll, é considerada uma celebre obra do gênero surrealista. Alice, uma garotinha, senta-se em uma arvore, quando percebe um coelho branco que a leva a sua toca, e ao cair é transportada ao tal país das maravilhas do titulo. A Alice da obra se encontra no meio de personagens dos mais pitorescos, como rosas cantoras, uma lagarta com vícios, um chapeleiro louco com sua lebre amiga (que por ter seus relógios quebrados na hora do chá não podem fazer nada além de beber chá), e a rainha incapaz de dizer algo alem de “cortem as cabeças”.
O livro é um manifesto sobre a necessidade, mesmo que na forma de sonho, do ser humano ter seu lado ilógico e inconsciente. Lewis usa os elementos e personagens para criar uma critica mordaz a sociedade. Claros exemplos são o chapeleiro e a lebre, incapazes de desobedecer a eterna hora do chá e comemorando o nada absoluto, ou mesmo a Rainha de Copas, numa alusão a rainha Maria Antonieta.
Os personagens de Caroll simplesmente são. Antigos Pré Socráticos diziam que a verdade de algo era esse algo
Ao assistir ao filme de Tim me deparei não só com um roteiro hollywoodiano clássico, como com um filme judaico-cristão messiânico. Calma, explico. O filme se passa anos depois da ida de Alice ao país das maravilhas, agora Alice é uma pós-adolescente que, por conta do pai, vê a “hipocrisia” do mundo (na minha opinião, nada mais adolescente). Enquanto a pequena Alice conversa com seu pai sobre a “loucura do mundo” o primeiro elemento do que será o roteiro clássico se anuncia: O mundo ideal para Alice, e para aonde ela vai querer e tentar retornar por todo o filme.
Em uma festa ela novamente encontra o coelho, e novamente encarna o país das maravilhas. Mas, algo é diferente nesse País das maravilhas, agora os personagens discutem a possibilidade de aquela ser a “verdadeira” Alice. Agora os personagens são lineares.
Eles, depois de várias discussões decidem levar Alice a um oráculo. Ai eu percebi que o que viria nada tinha haver com a obra que eu conheço. O oráculo/lagarta (o encontro do mestre) avisa que a “verdadeira” Alice deveria salvar o mundo do malvado dragão e da rainha vermelha. Vejo-me na necessidade do paralelo, Alice, como o próprio Jesus, foram anunciados como “escolhidos”. Jesus sabia desde pequeno a sua missão, e Alice sabia que ela teria que empunhar a espada contra o dragão malvado. Ai há a recusa, Alice diz que não mataria. Ela se recusa. Ai percebi, como os doze passos de Campell funcionam para o filme, de forma não inovadora. Eu já sabia o que esperar, no mal sentido da expressão. Sabia que Alice tentaria fazer algo que desafiaria o “destino”, mas o expectador nunca duvida de que ela é a escolhida. Ao ver o cachorro, a rainha Branca diz: “A espada está lá”. Juro ter tido um lapso de que tudo mudaria, mas não.
Assim os personagens se tornam, um há um, ajudantes da cruzada de Alice, o chapeleiro maluco vira um soldado ressentido, o coelho se torna um ressentido.... na verdade quase todos o fazem, até mesmo a rainha vermelha se torna uma invejosa da bela irmã. Na verdade, nesse sentido todos eles são reativos, no sentido dado por Nietzsche. Todos eles esperam a Alice prometida, sem nunca duvidar daquele pergaminho, sem jamais lutar. Todos são incapazes diante da vinda do messias, nesse caso Alice, todos sentam, esperam, e dizem: “Sem ela aqui, não podemos vencer... então pra que tentar?”. O que me é estranho, levando-se
A linearidade do filme Alice é impactante. Só ela é capaz de qualquer ação no filme, e quando por fim ela escolhe o mundo “real”, ela acusa a “hipocrisia do mundo”, em uma clássica cena de superação. Por fim, o ultimo clichê, depois de escolher o seu “caminho” Alice vai rumo à liberdade, mas ao invés da salvação final vir do mar, ela surge do céu, na imagem da borboleta. Nada mais redentor do que isso.
O filme lida muito mais com a incapacidade de fugir do próprio destino do que de superá-lo, Alice aceita seu roteiro com todas as letras, de boa moça até a assassina de dragões. O filme prega isso tão claramente que escolhe o pergaminho como o oráculo da profecia, um algo que começa e termina na horizontal, algo que tem começo meio e fim. A metáfora perfeita para o próprio filme.
Alice de Tim Burton não é uma critica social, ou um filme sobre a nossa necessidade da incoerência. É um filme sobre um país, que apesar de belo, é habitado por criaturas reativas incapazes, sobre o destino maior que os personagens.
Mas... eu sei que será aclamado, pois é fácil se identificar com alguém que se prega sonhador, lúcido e bom no meio de um exercito de pessoas malvadas desde o primeiro frame.
Bibliografia:
terça-feira, 6 de abril de 2010
Crítica de Y Tu Mama También
O filme de Alfonso Cuarón se inicia com a separação de dois casais de namorados. Um típico casal de namorados e com as promessas do reencontro. Uma promessa que se mostra falsa mesmo pela ação dos dois jovens, Julio e Tenoch e também pelas namoradas no aeroporto. Eles seriam tidos como garotos “normais”. Ligados em mulheres, confusos quanto ao seu próprio destino, e amigos inseparáveis. Mas até que ponto o símbolo do normal pode ser colocado a um personagem? Ou a um ser humano?
Levando-se em conta o texto de Peter Pál Pelbart. Como esses garotos e os personagens secundários, que por vezes tomam a atenção da câmera e do público, podem se encontrar dentro de um sistema e ao mesmo tempo fora dele?
Em seu texto, Peter nos coloca o conto de Kafka, do imperador Chinês que constrói a grande muralha para se proteger dos nômades. No entanto os nômades já estavam dentro da muralha, que era seguimentada. Não é difícil fazer um paralelo com a sociedade atual, que desconstrói as suas barreiras para que novos elementos possam ser incrementados a padrões. Peter usa o termo “Formas de vida”.
No filme Os jovens Julio e Tenoch são tarados e procuram por substâncias que alteram o estado de consciência (bebidas e drogas). Que estão longe do politicamente correto, no entanto são incentivados por propagandas, eles consomem mais do que drogas e bebidas, consomem uma forma de vida. E pela imagem de “transgressão” das drogas. Há já uma forma de estar inserido dentro de um contexto, dos “excluídos” usuários de drogas, ao mesmo tempo em que os jovens transgressores são partes de algo. Eles absorvem maneiras de viver e sentidos de vida, consomem muita subjetividade além dos produtos que consomem.
Os jovens Julio e Tenoch podem ser comparados aos nômades do conto de kafka. Eles tem seus próprios hábitos e códigos de ética, ao mesmo tempo que estão inseridos no “Império” (o cotidiano e a vida dentro do México). Eles simplesmente não se importam com alguns do costumes a sua volta (a piscina, o uso de drogas e etc.). Isso fica ainda mais evidente quando eles vão à busca da irmã de Tenoch para buscar o carro. “Boinas” como era conhecida, se encontra no meio de uma manifestação, que são comuns do cotidiano Mexicano, de acordo com o filme. No entanto a razão da manifestação não é nem citada, e Julio e Tenoch simplesmente não se importam com isso.
Numa das cenas iniciais eles estão presos em um engarrafamento, e depois de xingar, eles dizem que deve ser mais uma manifestação, e eles simplesmente xingam a manifestação também. São nômades que não se importam com o contexto do império que ao mesmo tempo supre e exclui esses indivíduos, como no conto de kafka, eles falam línguas diferentes, independente das muralhas impostas.
O exemplo máximo disso é quando Eles estão numa festa promovida pelo pai de Tenoch, em que contaria com a presença do Presidente. No entanto eles ficam contando o número de seguranças e não ligam a mínima para o que está ocorrendo. Nessa festa eles encontram a mulher de Jano, Luisa. Ela parece deslocada nesse lugar, como os personagens principais. No entanto ela parece não querer demonstrar, isso fica mais ainda evidente com as falas do narrador: “Com freqüência, Luisa ia com Jano a jantares de artistas e intelectuais, onde nunca se sentiu integrada. Sempre tinha alguém com a boa intenção de incluí-la, ou a má de expô-la, que na metade de uma dissertação lhe passava a palavra. Com toda a modéstia sempre repôs: “não sei dessas coisas”. Muitas vezes, desejou exigir dos assistentes que recitassem o nome de todos os dentes em ordem. Nunca se atreveu.”
Os personagens de Julio e Tenoch não sabem disso, nós sabemos pelo narrador Onisciente e Onipresente. Ele vai contando as histórias pregressas e futuras dos personagens que vão surgindo ocasionalmente durante o filme.
Luisa aceita ir com os dois para uma viagem rumo a “Praia del Cielo”, uma praia tida como inexistente para os personagens principais, e é feito para que o próprio expectador a considere inexistente. Eles partem para rumo a uma praia indicada por Saba um amigo dos dois. No caminho ficam óbvias algumas particularidades dos dois amigos. Eles contavam histórias alegremente para uma ouvinte interessada. “Entre o muito que se esqueceu de mencionar estava como Julio ascendia fósforos para esconder o odor quando ia ao banheiro da casa de Tenoch ou como Tenoch levantava com o pé o assento do sanitário na casa de Julio. Eram detalhes que não tinham porque saber um do outro”. Mesmo sem esses conhecimentos o narrador da a entender que esses traços, faz com que a amizade dos dois pareça ainda mais forte.
Nesse ponto já se percebe que os amigos têm um código de ética, não só representado pelo “Código Charolastra”, mas pela convivência de ambos, como os bárbaros de Kafka.
Os personagens secundários do filme “E sua mãe Também”, tem um papel relevante. O narrador nos mostra suas histórias. Como por exemplo, o pedreiro morto porque a passarela ficava a dois quilômetros de distância da obra que é do outro lado da estrada. O México como um império, o próprio pedreiro se inclui como parte da construção social, e em sua morte ele demonstra as mazelas dela.
O fato de o filme trazer as histórias das imagens à tona nos coloca diante da fragilidade não só da vida, como das relações de emprego e de amizade. Tudo parece frágil e finito, durante todo o filme vemos isso, como cruzes no acostamento na estrada e as histórias que o narrador nos conta.
No texto de Peter Pàl Pelbart, ele cita o livro “Conversas com Kafka”: “Não vivemos num mundo destruído, vivemos num mundo transtornado. Tudo racha e estala como no equipamento de um veleiro destroçado”. Essa citação nos pareceu relevantes ao nível que, as relações do filme se mostram muito mais frágeis dos que nos parecem. O pedreiro morre, amizades inseparáveis que podem acabar, casamentos ruídos, promessas de amor eternas que descumprem.
Um filme que lida em si com finais. O fim próximo ou não, de amizades ou formas de vida (caso do pescador que tem de trabalhar em um hotel e deixar da pesca que era uma tradição de família). O Império que deveria prover a diversidade acaba por ruí-la.
No filme a sociedade nos parece caótica, com manifestações seguidas. Os personagens não dizem diretamente, e não se importam com isso. O Império não consegue manter a soberania e não parece haver muralhas para os personagens. Eles caminham em direção ao desconhecido, e se encontram com pessoas que vivem “formas de vida” que nos parecem mais excluídas que as suas próprias. Como a vendedora de souvenires que da um ursinho a Luisa, que era da sua neta, também Luisa. O narrador nos conta que ela morreu de insolação tentando entrar em outro país, procurando oportunidades. Essa senhora demonstra algo que é tido como a exclusão, a vendedora ambulante, a vendedora nômade, a senhora de idade, uma pessoa pobre financeiramente. Mas que procura a lembrança da própria neta. Essa vendedora esta fora do sistema, mas ajuda a mantê-lo. O sistema é tão nômade quanto ela, “O Império se Nomadizou”, Peter Pàl Pelbat. Ele se eleva e busca as pessoas, como diria Peter Pàl Pelbat.
Os finais de cada um dos personagens e das suas relações, insinuam desde o fim do namoro, a morte de Luisa e a separação dos amigos (possivelmente em nome de um código de ética do próprio sistema. (Inseridos e ao mesmo tempo excluídos dele). Luisa deixa uma mensagem sobre o tempo da espuma sobre água, Luisa: "A vida é como a espuma da praia, por isso devemos nos dar como o mar". Assim age o filme, o filme fala sobre os momentos que antecedem o “destroçar do veleiro”. O tempo antes da morte de Luisa, como ela sabia, e que nem o narrador nos avisa ou sabe. Os personagens estão dentro e fora de sistemas e sub-sistemas. Eles constroem as suas escolhas, baseados na suas predileções, até o momento que escolhem finais ou que eles se apresentem.
Os personagens se mostram no filme como nômades, o sistema também. Julio, Tenoch, Luisa e outros personagens, vão à busca de algo novo ou não, eles são um povo sem habitat fixo, sem uma forma de vida fixa, sempre em transformação cultural, onde suas leis, seus valores e quase tudo está sempre em transformação, por isso eu acredito que no fim do filme todos se separam. O filme fala de finais, de algo que já existe e se modifica, transforma em outra coisa, que pode ser o fim dela ou o início para algo novo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
PÁL PELBART, Peter. In: Biopolítica e Biopotência no coração do Império.2002.
Escrito por Osvaldo Luciano dos Reis e Murillo B. Martins
Pulp Fiction e a Decadência da Sociedade Americana
Um país que viveu várias guerras durante toda sua história e o único a lançar duas bombas atômicas, isso é resultado de um governo que deveria dar o bom exemplo para a população, mas acabou transformando essa população em uma sociedade com medo de todo tipo de ameaça.
O filme mostra essa decadência da sociedade americana. Um país povoado por pessoas que se matam por motivos banais, como os personagens Vincent e Jules. No momento em que eles matam os traidores de Marsellus no apartamento e quando estouram a cabeça do jovem dentro do carro. Eles não demonstram preocupação por terem matado o jovem, discutem apenas como eles vão limpar o carro. Tarantino mostra no filme que a vida não tem mais valor para a sociedade e que o único valor mostrado no filme é a auto-preservação que cada personagem/pessoa tem.
Os personagens não têm valores morais. Elas fazem tudo por dinheiro, são facilmente compradas e deixando de lado muitas vezes a honra e a tradição em função disto. Algo que não ocorre com o personagem Butch, que acaba vencendo a luta de boxe, em vez de perder como era o combinado com Marcellus, além disso, ele preserva a tradição do relógio de seu bisavô. A tradição de Guerra é mostrada no filme, quando o Capitão Koons entrega o relógio para Butch e conta toda a história do relógio e a sua importância para a família de Butch. Apesar de Tarantino fazer uma grande piada sobre onde foi guardado o relógio (no Anus), quando o Pai de Butch e o Capitão Konns estiveram presos, ele conta através dessa pequena historia do relógio, que resistiu a 1°, 2° Guerra e a Guerra do Vietnã. Uma possível explicação de como a sociedade americana chegou naquele estágio de desvalorização da vida, um país que tem sua história marcada por Guerras.
Jules é um personagem que acaba vendo um valor na vida no final do filme, quando o casal Pumpkin e Jody assalta o restaurante e pega a sua carteira, ele acaba os deixando ir embora e dá dinheiro a eles ao invés de matá-los. Talvez tenha os deixando ir apenas porque estava cansado daquela vida. Ele parece mudar após o “milagre”, cena em que Lance atira várias vezes e não acerta nenhum tiro nele e em Vincent.
Os imigrantes foram citados em algumas passagens do filme, como a mexicana que ajuda Butch e quando Pumpkin fala para Jody que os imigrantes não dão a mínima para o dinheiro do patrão no caso de um assalto. Imigrantes que de certa forma construíram os EUA e o mantém em funcionamento através da mão de obra barata, mas que são perseguidos pelos americanos.
Os únicos personagens que demonstram amor e preocupação entre eles são os assaltantes Pumpkin e Jody do inicio do filme e o casal Butch Coolidge e Fabienne, apesar dele debochar dela em alguns momentos do filme. Os outros personagens não demonstram amor ou mesmo preocupação entre eles. No filme não existe a imagem da família, existe apenas casais sem filhos ou mesmo filhos com apenas uma mãe ou pai como o personagem Butch, não ocorre como o filme O Poderoso Chefão que mostra a importância em proteger a família e o amor entre elas. Tarantino tentou mostrar como a sociedade se perdeu e chegou a essa decadência que está.
Escrito por Osvaldo Luciano dos Reis.